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15 de junho de 2015

Às vezes acho que não sei existir.

1 comentário:

  1. A suposta existência
    Como é o lugar quando ninguém passa por ele?
    Existem as coisas sem ser vistas?
    O interior do apartamento desabitado, a pinça esquecida na gaveta, os eucaliptos à noite no caminho três vezes deserto, a formiga sob a terra no domingo, os mortos, um minuto depois de sepultados, nós, sozinhos no quarto sem espelho?
    Que fazem, que são as coisas não testadas como coisas, minerais não descobertos - e algum dia o serão?
    Estrela não pensada, palavra rascunhada no papel que nunca ninguém leu?
    Existe, existe o mundo apenas pelo olhar que o cria e lhe confere espacialidade?
    Concretitude das coisas: falácia de olho enganador, ouvido falso, mão que brinca de pegar o não e pegando-o concede-lhe a ilusão de forma e, ilusão maior, a de sentido?
    Ou tudo vige planturosamente, à revelia de nossa judicial inquirição e esta apenas existe consentida pelos elementos inquiridos?
    Será tudo talvez hipermercado de possíveis e impossíveis possibilíssimos que geram minha fantasia de consciência enquanto exercito a mentira de passear mas passeado sou pelo passeio, que é o sumo real, a divertir-se com esta bruma-sonho de sentir-me
    e fruir peripécias de passagem?
    Eis se delineia espantosa batalha entre o ser inventado e o mundo inventor. Sou ficção rebelada contra a mente universa e tento construir-me de novo a cada instante, a cada cólica, na faina de traçar meu início só meu e distender um arco de vontade
    para cobrir todo o depósito de circunstantes coisas soberanas.
    A guerra sem mercê, indefinida prossegue, feita de negação, armas de dúvida,
    táticas a se voltarem contra mim, teima interrogante de saber se existe o inimigo, se existimos ou somos todos uma hipótese de luta ao sol do dia curto em que lutamos. Carlos Drummond de Andrade

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